Em pouco mais de 30 anos, a demanda por água potável crescerá mais
do que a metade, sendo que nas indústrias o percentual da demanda chegará a
400% em detrimento de 130% do uso doméstico, segundo relatório da OCDE
(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
Essa demanda deve colocar sob risco de escassez hídrica cerca de 2,3 bilhões de pessoas que vivem perto de rios,
especialmente na África e Ásia. Por outro lado, uma das maiores fontes de água
doce, os rios, estão cada vez mais poluídos, virando nas metrópoles esgotos a
céu aberto.
O modo predatório pelo qual a cultura ocidental
utiliza os recursos naturais é alvo de críticas de ambientalistas e cientistas.
Anunciado no relatório do OCDE, o colapso ambiental para o qual o mundo
caminha, devido a ausência do equilíbrio necessário com o meio ambiente,
reforça a afirmação do índio Marcos Terena, de que “o homem branco é uma
civilização que não deu certo”.
Na mitologia indígena, o espírito das águas, os
Guoianei, integram-se aos da floresta, os Zagapoi, sendo dependentes uns dos
outros, porque não há floresta sem água, nem rios sem
floresta. Quando rompida a alternância e integração, os espíritos
inviabilizam a vida humana. Este pequeno relato está em um dos trechos do livro
A morte social dos rios, do filósofo e sociólogo Mauro Leonel, professor
livre-docente de Ambiente e Sociedade da USP (Universidade São Paulo).
Diálogo
Em entrevista exclusiva ao Portal
EcoDesenvolvimento.org, Leonel, que há 27 anos estuda os povos indígenas,
afirma que o desenvolvimento sem limites (esgoto, canalizações indevidas e
falta de proteção das margens e nascentes) está matando os rios e que temos
muito que aprender com os povos indígenas. “A várzea não é do ser humano. É das
plantas e peixes”, diz.
Para o pesquisador, estabelecer o diálogo com os nossos indígenas é fundamental para trazer a harmonia necessária com a natureza. Leonel enfatiza que os índios e os ribeirinhos são ouvidos "porcamente" e critica a construção de Belo Monte no rio Xingu. “Dilma (Rousseff) vai bem, mas não tem uma orientação ambiental e sua política indigenista é um fracasso. Rio não é para grandes hidrelétricas", ressalta. Ele ainda acrescenta que em todo esse processo "os índios são grandes vítimas. Afinal, quem esperaria ver Raoni, um guerreiro (índio), chorando e sendo preso?”, ressalta.
De acordo com o professor, os recursos hídricos estão seriamente comprometidos, mesmo com a grande parcela de água doce existente no Brasil (pouco mais de 12% das águas superficiais do planeta). E o que falta para “reviver” nossos rios? “a sociedade deve compreender que a água, como o ar e o sol, é indispensável”.