Tem sido cada vez mais frequente o uso do termo conservacionismo ambiental. No entanto é notória a falta de clareza do seu significado perante a população em geral. A maioria das pessoas, muitas delas educadores e ativistas ambientais, entende que o termo se refere a preservação específica de uma determinada área de parques e reservas, ou ações que visam defender uma determinada espécie animal ou vegetal que se encontra em perigo de extinção. Ou seja, este conceito ainda está muito ligado a questões isolados da fauna e flora.
De fato preservar uma área naturalmente inalterada ou lutar contra a extinção de uma espécie animal ou vegetal faz parte do conceito de conservacionismo. Mas quando se fala em meio ambiente há de se entender que esta terminologia não se refere apenas a territórios dos parques e reservas ou nas áreas de sobrevivência de uma ou outra espécie animal. O meio ambiente é todo e qualquer espaço do nosso planeta e tudo que compõe este conjunto, incluindo a atmosfera, subsolo e mesmo as áreas urbanas.
A falta de informação nesse sentido é evidente quando se nota que, quando questionadas, a maioria absoluta das pessoas se dizem favoráveis ao conservacionismo. Mas nada eles fazem no seu cotidiano para tornar o nosso meio ambiente melhor.
Se todas as pessoas tivessem consciência do papel individual na luta para a preservação do meio ambiente não haveria a necessidade de racionamento de energia ser uma campanha nacional. A reciclagem de lixo seria um senso comum. Acredito que seria relativamente fácil estruturar uma sociedade que gerasse menos lixo e desperdício.
Já que falamos em racionamento de energia, será que não seria possível mobilizar uma campanha para que as pessoas gerassem 10g de lixo a menos e gastassem 1g a menos de produto de limpeza e higiene por dia? Apenas essa ação resultaria em 180 toneladas de lixo a menos no aterro sanitário e 18 t de produtos de limpeza e higiene a menos nas redes de esgoto doméstico de uma cidade como São Paulo por dia (18 milhões de habitantes – 5400 t e 540 t respectivamente por mês). Isso é apenas o começo se pensarmos em outros problemas como questão de energia (não apenas elétrica mas também combustíveis fósseis e gás natural), procedimentos industriais, ações que potencializam os problemas de erosão, poluição, etc.
Partindo deste tipo de princípio, as ações voltadas para o conservacionismo ambiental devem visar não apenas a preservação de áreas correspondentes a reservas, parques e zonas de preservação ambiental, mas sim um conjunto de medidas que conscientize o povo a incorporar procedimentos de mínimo impacto ambiental de forma lúcida, principalmente nas rotinas do cotidiano. Afinal, o efeito das atitudes de uma pessoa durante uma visita a um ambiente naturalmente preservado é ínfima se comparada à somatória dos efeitos das ações praticadas por ela no dia a dia.
A conscientização ambiental se tornou um assunto multidisciplinar e não se resume mais nas simples campanhas para salvar os bichinhos e plantinhas. Apesar de toda a complexidade que o assunto está adquirindo ainda temos uma grande vantagem: ninguém necessita de conhecimentos científicos ou culturais complexos para entender esse assunto. Podemos dispensar a álgebra linear, física de estado sólido, biologia molecular ou a capacidade de saber identificar as diferenças das linhas do Kandinsky, do Joan Miró. Nem tampouco precisa ter lido Os Sertões do Euclides da Cunha, Ulisses de James Joyce ou Montanha Mágica do Thomas Mann. O ambientalismo pode e deve ser tratado muna linguagem simples, de fácil compreensão tanto para as crianças quanto para as pessoas simples que vivem em situações menos privilegiadas.
A base da sustentação do conservacionismo está na população. Sem uma massa crítica de ativistas os efeitos benéficos não conseguirão atingir uma dimensão que produza efeito real. Para que isso seja viável são necessários trabalhos de base com procedimentos estratégicos de educação e informação bem planejados e bem executados. Aqui também temos uma grande vantagem: a princípio não deve existir ninguém que esteja contra a preservação ambiental. Assim sendo basta romper a barreira do desconhecimento para que pelo menos os procedimentos mais simples sejam de pronto adotados.
: Luiz Makoto Ishibe
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