Frente Parlamentar Estadual da Coleta Seletiva
Coordenação: Deputado João Antonio (PT)
Assembléia Legislativa de São Paulo

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

São Paulo tem jeito???


por Yuri Vasconcelos



Quem mora em São Paulo sente na pele o que é viver numa cidade cheia de problemas ambientais: ar muitas vezes irrespirável, enchentes, lixo nas ruas, congestionamento, degradação nos rios, invasão de áreas de mananciais, ausência de espaços verdes. As agressões tanto à natureza quanto aos moradores da cidade parecem não ter fim – e nem solução. Na verdade, as soluções existem. E todas começam no mesmo lugar: numa mudança na forma de encarar os problemas. Em vez de vê-los isoladamente, é preciso descobrir de que maneira eles se relacionam e, então, buscar soluções sistêmicas. Ou seja, para usar uma imagem da medicina, São Paulo precisa passar pelas mãos de um clínico geral antes que os especialistas entrem em ação.
O fantasma das enchentes, por exemplo, é resultado da sujeira nas ruas, da ocupação irregular do solo (principalmente em zonas de mananciais) e da falta de parques. A poluição do ar, por sua vez, é gerada pelos 3,5 milhões de automóveis que circulam diariamente ocupando as ruas da cidade e dando um nó no trânsito. E o rio Tietê está como está porque não param de jogar lixo e esgoto dentro dele. “São Paulo cresceu dentro da lógica da desordem”, diz a urbanista Raquel Rolnick, do Instituto Pólis. Dar um fim em tudo isso é um tremendo desafio. Depende, em grande parte, de governos mais comprometidos com a saúde da cidade e de seus habitantes. Mas depende, também, e sobretudo, de uma mudança na atitude da população frente aos problemas da cidade. Afinal, se São Paulo é como um organismo, tanto a mente quanto o corpo precisam estar afinados. Ou seja: administração e moradores devem estar comprometidos com a qualidade de vida da cidade onde vivem.

Poluição das águas
Mais vergonhoso cartão-postal de São Paulo, o rio Tietê corre como um esgoto a céu aberto pelas entranhas da cidade. A causa são as mais de 1 000 toneladas de esgoto in natura e lixo despejadas dia e noite em seu leito. Algo parecido acontece no rio Pinheiros. Nas represas Billings e Guarapiranga, os principais reservatórios de água da capital, o problema são as favelas e os loteamentos irregulares dos entornos. O quadro é desalentador mas pode ser revertido. O Projeto de Despoluição do Rio Tietê, por exemplo, iniciado em 1992, prevê uma série de obras de saneamento que podem trazer alívio para os mananciais de São Paulo. Se for cumprido tudo o que está programado, em algumas décadas os paulistanos vão poder se refrescar com um banho em suas águas limpas.
Na verdade, a primeira etapa da recuperação foi finalizada em 1999. Cerca de 1,1 bilhão de dólares foram gastos para limpar o caldo denso, escuro e malcheiroso que corria no lugar da água. A rede de esgotos da cidade ganhou 1 780 quilômetros de tubos coletores, o que elevou para 80% o total da população atendida pelo serviço – antes era de 63%. Três novas estações de tratamento (Parque Novo Mundo, Barueri e ABC) foram construídas, fazendo com que 60% do esgoto seja tratado antes de voltar para o rio. Além disso, as 1 250 indústrias mais poluidoras da região metropolitana tiveram que reduzir drasticamente a sujeira jogada no Tietê. O rio Pinheiros também foi contemplado. Um emissário recém-inaugurado beneficiou dois milhões de pessoas e desviou para a Estação de Tratamento de Barueri 84 toneladas que eram lançadas diariamente em seu leito.
Para quem mora na cidade de São Paulo, a melhoria na qualidade ainda não é perceptível. No interior do Estado, porém, a mancha de poluição encolheu mais de 50 quilômetros. Quando a segunda etapa do projeto ficar pronta, em 2004, os avanços finalmente aparecerão aos olhos. O então Tietê terá 2 miligramas de oxigênio por litro – hoje é zero – e já será possível encontrar algumas espécies de peixes nadando no trecho que corta a região metropolitana. O mau cheiro também vai sumir. Para que isso se torne realidade, a rede de coleta de esgotos ganhará 1 000 quilômetros de canos, elevando para 90% a população atendida. Nas indústrias, o índice de tratamento de dejetos subirá para 70% e 290 indústrias terão que reduzir seus níveis de emissão de poluentes. Na parte final do projeto, 100% da água que chega ao Tietê precisará ser tratada. Se tudo der certo, em 30 anos o rio Tietê estará limpo.

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